Countdown

A cinco dias da partida, seria de esperar que estivesse a rebentar de ansiedade. Não estou.

Esta viagem andou tanto tempo a ser planeada na minha cabeça que parece que já quase conheço a maioria dos destinos traçados no mapa. É uma ilusão, eu sei. A cabeça engana muito.

Não foi também por acaso que, nos últimos anos, viajei sozinho para a Indonésia e para o Peru. Eu queira ver como eram esses dois extremos do mundo, apalpar terreno, tirar-lhes o pulso. Descobrir que na América se anda de autocarro e na Ásia de comboio. Perceber que na segunda se pode confiar mais nas pessoas, enquanto que na primeira convém ter mais alguma atenção. Enfim, esse tipo de coisas.

A cinco dias da partida, seria de esperar que no chão da minha sala já estivesse a manta em que costumo ir colocando a roupa e os acessórios que constituem a bagagem. Não está.

Na verdade, desde que deixei de trabalhar e tomei a decisão de viajar (mais ou menos 30 minutos depois!), pouco tenho parado. Depois da história do lançamento do livro, mais do que planear a viagem em si, é preciso preparar a sua estrutura de suporte e antecipar um pouco o regresso. Burocracias de Centros de Emprego, Finanças e Segurança Social, SMAS, Portgas, EDP, TVCabo, seguros, bancos, etc. Alterar e actualizar contactos, arrumar a casa, ajudar amigos e família nas suas coisas, despedir das pessoas mais próximas.

Contava o meu amigo João Diogo, na apresentação do livro, uma história passada durante a sua viagem de volta ao mundo. Um fotógrafo Sul-africano, curioso ao vê-lo ali de pranchas às costas num comboio algures no interior da Nova Zelândia, meteu conversa com ele. Depois do João lhe explicar que andava simplesmente a ver o mundo e a procurar praias e ondas, o homem não ficou convencido.

- Mas não andas à procura de mais nada?

Ele ficou a matutar naquilo e, alguns minutos mais tarde, dirigiu-se novamente ao seu companheiro momentâneo de viagem e disse-lhe que sim, que realmente estava. O João encontrou-se naquela viagem.

Numa aventura destas, vamos inevitavelmente à procura de alguma coisa, que muitas vezes nem sabemos o que é. E mesmo quando não vamos, acabamos sempre por encontrar.