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Sorrisos de graça

Quando andava pelo México e a América Central, já lá vão uns meses, havia um anúncio do Ministério do Turismo do Panamá que passava com bastante frequência na televisão. A mensagem era principalmente focada nos preços mais baixos que, pelo menos teoricamente, se encontram no país.

Enquanto passavam imagens a condizer, ouvia-se: “Aqui, a comida é mais barata. Aqui, a roupa de marca é mais barata. Aqui, os bilhetes de avião são muito mais baratos. Aqui, a tecnologia é muitíssimo mais barata”. E terminava com um senhor de barbas, que parece que é famoso, a dizer: “E os sorrisos, esses são de graça!”

Gosto de anúncios e de os avaliar sempre com uma perspectiva crítica tendo em vista o seu objectivo e, ao contrário das vozes da “opinião pública”, não achei disparatada a campanha AllGarve. Já este anúncio do Panamá, acho um bocadinho enganador porque, na verdade, os preços não são assim tão mais baixos do que nos países vizinhos. Em algumas coisas, como os bilhetes de avião, são bem mais caros, neste caso devido ao quase monopólio da Copa Airlines. E, quanto aos sorrisos… bem, digamos que, taco a taco com Mexicanos, Peruanos ou Salvadorenhos, os Panamenhos não são propriamente o melhor exemplo de povo sorridente.

Ora, tivesse sido feito pelo governo da Tailândia, com uma rapariga morena de olhos rasgados em vez do tal senhor de barbas, este anúncio era perfeito! Principalmente no que respeita aos sorrisos. De facto, o sorriso é praticamente uma instituição neste país.

Ao contrário dos seus vizinhos Vietnam e Cambodja, o povo tailandês não tem um passado recente de guerras e opressões. Na rua, não é comum ver pessoas com a cara deformada pelo efeito do Agent Orange despejado pelos Estados Unidos durante a guerra, nem sobreviventes amputados do movimento genocída de Pol Pot. Talvez por isso, a Tailândia seja um país mais feliz.

Desfazendo algum preconceito pouco racional, tenho-me surpreendido bastante com os muçulmanos. Ou, para ser mais sincero e exacto, com as muçulmanas. Debaixo do lenço, véu e das roupas maioritariamente escuras que as tapam por completo debaixo dos 30 graus que se fazem sentir, tenho encontrado pessoas com uma tranquilidade alegre invejável e com um sentido de humor com o qual me identifico plenamente.

- Gosto quando sorris – diz uma das anfitriãs nos bungalows de Koh Lanta.

É que eu sou mais do tipo Panamenho… e bem tenho tentado zangar-me com a senhora da agência de viagens que impingiu um hotel, com o funcionário da estação que se enganou a indicar o comboio correcto ou com o motorista do tuk-tuk que tenta sacar o seu.

Mas lá vem o sorrisinho acompanhado de uma expressão qualquer engraçada a prolongar a última sílaba e, pronto, fica sempre tudo bem!

Aqui, os sorrisos são mesmo de graça. E isso faz toda a diferença.


Nota 1: Algumas expressões engraçadas

Bike, bike, motorbike
Boat, boat, taxi boat
Same same… but different
Massage todaaayy?
Ok boss?
Cheap price, very cheap

Nota 2: Itinerário

O meu itinerário sofreu uma alteração radical. Os menos distraídos terão reparado que adiantei e apressei o Vietnam e o Cambodja e que, a mais de 20 dias da data de regresso, estou na minha última paragem. Quando a maioria dos leitores ler este post, já estarei a dar meia volta ao mundo de avião. Para, logo de seguida e com apenas uma paragem de algumas horas perto de Portugal, dar outra meia e terminar esta viagem em grande! Vemo-nos novamente do outro lado.


OK boss?

:) (sorriso)

Na rota do turismo

Desde que saí da Indonésia e deixei as pranchas num hotel em Bangkok que ando na rota do turismo.

É certo que, durante todo o percurso desde a Cidade do México, passei por vários lugares do chamado “turismo de massas” mas sempre encarei esses momentos como visitas de “picar o ponto”. Não que não as quisesse fazer mas, na realidade, nunca foram os pontos altos do meu roteiro de viagem pessoal.

Tulum ficava no caminho, em Tikal passava-se perto, o vulcão Arenal é imperdível (mesmo sendo um cromo repetido) e para ir a Atacama era só um pequeno desvio (12 horas de autocarro!). E assim por diante… juntando sempre “o útil ao agradável” e visitando marcos históricos e turísticos no caminho das praias e das ondas.

- Buenas olas hoy? – brincava comigo um local de San Pedro ao ver-me desembarcar do autocarro com duas pranchas ao ombro, numa cidade no meio do deserto e a 2.400 metros acima do nível do mar.

Esta sensação de estar só de passagem, a caminho de um destino menos convencional, dava-me alguma autonomia emocional para não embarcar em tudo o que me aparecia à frente (hotel booking, tours, happy-hours, massage, truc-truc, all you can eat… you name it!) na ânsia de aproveitar ao máximo a estadia. Era como se ali não tivesse qualquer obrigação de nadar naquela praia, de subir aquele monte, de fotografar aquela paisagem, nada! Na realidade, aqueles eram os meus pontos de descanso, os momentos para organizar fotos, actualizar o blog, escrever os postais e aproveitar um bocadinho de mais civilização. Se fosse a Roma e não visse o papa, não vinha daí grande mal. E, reconheço, fazia-me sentir um pouco à parte e diferente da maioria dos viajantes e turistas que ia encontrando.

Mas agora, quando me falha esse objectivo mais concreto e me vejo prisioneiro de agentes e operadores de turismo, começo a sentir o quão vazio e irritante pode ser viajar quando nos limitamos a seguir a corrente e os passos que outros desenharam para nós, como se fossemos cordeirinhos mansos em direcção ao matadouro.

No Vietnam e no Cambodja, não consigo fazer quase nada sem a ajuda de uma das centenas de agências de viagens que abundam em todos os locais de “passagem obrigatória”. Não encontro transporte público para subir o rio Mekong e tenho que ir numa viagem organizada (que até acabou por ser razoavelmente off-road); em Siem Reap, não alugam motas ou carros a estrangeiros, obrigando a visitar os templos de Angkor num tour ou de forma independente mas alugando um tuk-tuk com motorista/guia (alugar uma bicicleta e pedalar mais de 30 kms debaixo de um sol abrasador não me pareceu uma opção na altura); as empresas de autocarros não se vêem e é difícil conseguir que nos vendam um bilhete directamente, sem ser por intermédio de uma agência; há grandes esquemas montados de forma a fazer demorar as viagens até à exaustão para, finalmente, deixarem os passageiros mesmo à porta de uma guest-house onde os espera um sorriso e a promessa de um bom banho e uma cama confortável.

- Ouvi dizer que o caminho é perigoso porque se atravessa muitas aldeias para onde mandaram os antigos assassinos em massa – diz-me o Jean, um preocupado Suíço companheiro da viagem entre o Vietnam e o Cambodja.

Está a referir-se à estrada entre Siem Riep (Cambodja) e a fronteira com a Tailândia e às atrocidades cometidas pelo movimento Khmer Vermelho há mais de trinta anos, na altura ofuscadas pela cobertura mediática da campanha dos EUA na guerra do Vietnam.

Olho para ele com um ar paternalista.

- Mas achas que alguém te quer matar!? Coitados dos homens… só devem é querer viver na paz possível os anos que lhes restam. E se fosse assim tão perigosa não havia linhas de autocarros turísticos a fazer esse percurso.

Mais tarde, também ficará intrigado por eu e um Inglês, com quem dividi o quarto em Chau Doc, estarmos a tomar comprimidos contra a malária.

- Mas é assim tão perigoso? Nós trouxemos, mas só tomamos se ficarmos com febre.

- Boa! Eu também só ponho protector solar se apanhar um escaldão!

Desatámos todos a rir e acabámos a noite a beber umas cervejas e a contar histórias num bar com alto ambiente e boa música.

Consigo sair de Siem Riep de táxi partilhado até à fronteira, para tentar evitar os esquemas dos agentes de viagem, e daí apanhar um autocarro semi-público até Bangkok. Na verdade, nem percebi muito bem… só sei que paguei mais do dobro que os passageiros locais e tive que fazê-lo através do raio de um agente porque o condutor não me deixava entrar de outra forma!

Não me atraso ao encontro combinado em Singapura e, depois de dar um desfalque no orçamento (comprei um novo iPod para substituir o roubado na Costa Rica) e de uma voltinha pela Malásia (que recomendo sem reservas), regresso à Tailândia e ao expoente máximo do turismo: ilhas Phi Phi!

Cometo o erro de reservar um quarto através de uma agência de viagens, acreditando nos comentários de guias de viagens famosos. Azar! Não só fico sem o dinheiro do depósito como acabo por ter que me hospedar num hotel quatro vezes mais caro. Felizmente, é o único (excluindo os isolados resorts de luxo) onde é possível ter um momento de sossego para escrever aos meus leitores, longe das hordas de turistas que desembarcam no porto todos os dias, da música electrónica do bares de praia, do barulho das obras de reconstrução e do lixo que, dificilmente me convencerão do contrário, já não são restos nem efeito do tsunami. Este pedaço de ilha, mesmo depois da desgraça, está a rebentar pelas costuras e acaba por perder o seu encanto no meio da barafunda.

Ou então, sou só eu que já não estou habituado a estas andanças. Mas houvesse ali uma esquerda a quebrar perfeita na ponta do morro que a história já era outra. ;)

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