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José of the dogs

Ithaka, nascido Darin Papas no sul da Califórnia, é um artista autodidacta e multifacetado. Música, escrita, fotografia, escultura… “you name it”.

Descobri a música dele há alguns atrás, pela mão de um bom amigo, nomeadamente uma letra que ele dedica ao Zé Seabra, um respeitado e, segundo dizem as lendas, muito atirado surfista português. A música chama-se “Seabra is mad” e conta a história de uma viagem de surf à Madeira que os dois fizeram, se não estou em erro, com o João Valente, director da revista Surf Portugal. Todas as suas músicas contam uma história e ouvi-las é, de facto, como ler um bom conto.

Ithaka tem passado bastante tempo em Portugal, onde inclusivamente já gravou um disco em que uma das canções se chama precisamente “N’ Portugal”. Ele gosta do nosso país e fez cá (aí) bons amigos, acho que disso não restam dúvidas.

No simples e frio restaurante de Chicama, um dos Canadianos chama a minha atenção para a filmagem do dia, que está a ser reproduzida na televisão.

- Ei Portugal, it’s you! Buena ola!

Olho para cima e, claro, não gosto do que vejo. Tenho um estilo feio e pesado. Lento. Aquele roundhouse animal, afinal não foi mais do que uma preguiçosa manobra feita a três tempos. Não tenho vergonha, até porque boa parte dos filmados surfam o mesmo ou menos do que eu. Estamos ali para nos divertir, nada mais, mas nem quero ver o resto da onda. Lembro-me que a seguir vou passar uma boa secção por cima da espuma e prefiro manter intacta a fantasia que mandei um grande floater!

Por outro lado, estou completamente absorvido pela revista que tenho à minha frente, pousada ao lado do prato de “pescado con agregado”. É o último número da revista americana Water, que algum gringo deve ter lá deixado, e um título nas últimas páginas reteve toda a minha concentração: “Zé dos Cães (José of the Dogs), by Ithaka – winter 1993.”

O artigo é uma história chegada à secretária de um editor da International Surf Magazine em 1993, “num envelope amarrotado desde Portugal” e que, mais uma vez, podia dar em música. Conta como o Darin Papas conheceu o Zé dos Cães numa viagem a Sagres, a forma como se deram bem desde o início e algumas aventuras passadas nas estradas e ondas do sudoeste algarvio, que me fizeram sentir algumas saudades. A história termina com o episódio do suposto ou imaginado suicídio do Zé na ponta de Sagres, uma fábula que rodou nas revistas portuguesas e que não tenho a certeza se já foi totalmente esclarecido.

Para além do mito e do mistério, nunca conheci o Zé dos Cães. Não conheço, senão de vista ou de ler em revistas, o Zé Seabra ou o João Antunes. E, com o João Valente, apenas troquei alguns emails. Mas, naquela noite, pus a malta toda a ler o artigo sobre “os meus amigos lá de Portugal” e, no fim do jantar, pedi ao dono do restaurante para arrancar as três últimas folhas da revista.

Meio a sério, meio a brincar, também disse ao fotógrafo e cineasta de serviço para não me filmar mais. É que, aquele cutback lento e preguiçoso do vídeo soube-me mesmo muito bem dentro de água e foi segurado com estas perninhas que a terra há-de comer. E isso é que importa!

- Download do artigo AQUI
- Website do Ithaka
AQUI

Travessia do deserto

Quando fui para comprar o bilhete de autocarro, estava à espera que me dissessem alguma coisa. Apesar das imagens que vi em alguns jornais, que mostravam a Panamericana destruída em vários troços, acreditava que era possível passar mas esperava, pelo menos, um alerta. Um aviso de que a viagem poderia demorar mais do que as dezassete horas e meia normais. Mas, na verdade, também não quis perguntar. Eu queria mesmo viajar naquele dia e uma informação cruzada podia confundir os planos na minha cabeça. Inseri o número do cartão de crédito no site da Cruz del Sur e comprei o bilhete: Lima-Tacna; Domingo 19Ago, 15:30; serviço Cruzero salão Vip; lugar 4A. Viajar de autocarro no Peru, nas melhores empresas e classes de serviço, é muito confortável e, em viagens nocturnas, poupa-se também o dinheiro do hotel.

A maior parte da viagem seria feita de noite, por isso não estava à espera de ver muitos cenários de destruição resultantes do sismo. Por um lado, preferia assim. Tenho sempre algum pudor em observar esse tipo de coisas como se fossem uma atracção turística. Mas, nas proximidades de Chincha, o autocarro abranda drasticamente durante alguns quilómetros e acaba por parar no que se percebe ser uma fila interminável.

- Tem-se demorado, em média, três horas a passar – ouvi a hospedeira dizer para um passageiro amigo.

Um dos procedimentos de seguranças destas empresas é viajar com as cortinas das janelas fechadas mas, por esta altura, eu já estava a infringir. Do conforto no meu assento-cama com 180º graus de inclinação e enquanto passa um filme com a sempre irresistível Sandra Bullock, começo a ver os primeiros sinais de devastação. A cidade está completamente às escuras e há centenas de pessoas na rua, à face da estrada, com lanternas e sacos às costas. Os faróis da caravana de autocarros (outro procedimento de segurança é viajar em caravana) conseguem, mesmo assim, revelar alguns escombros do que suponho ser casas e lojas totalmente destruídas. Naquele ponto da estrada, o alcatrão cedeu e caiu três metros e apenas se consegue passar por um desvio de terra improvisado pelos militares. Um sentido de cada vez.

Logo a seguir, o cenário repete-se a passar por Pisco e Ica, onde paramos para recolher passageiros, duas das cidades mais afectadas. Creio que não está ninguém dentro das casas, não sei se por medo de novas réplicas, se por uma necessidade absoluta de estar em grupo numa altura destas ou se por estar demasiado frio. As pessoas puseram os colchões das camas na rua e nos alpendres das casas que se mantiveram de pé ou estão reunidas à volta de uma das várias fogueiras acendidas na beira da estrada. Consigo-os vê-las ali tão perto, a dois metros, mas elas não me vêm a mim. Os vidros escuros e as luzes apagadas dentro do autocarro não permitem. Ainda assim, apontam as lanternas na esperança de chamar a atenção de alguém. Vejo famílias inteiras (pai, mãe, filhos, bebés) sentados no meio dos escombros do que deveria ser a sua casa, abrigados apenas por um guarda-sol ou um cobertor. Sinto vergonha.

Um miúdo cola-se à minha janela. Não bate mas faz gestos desesperados, como se eu fosse a sua última hipótese de salvação. Não consigo ignorá-lo mas tenho pouca coisa que lhe possa dar. Comigo “apenas” carrego a mochila que transporta o computador, a máquina fotográfica, documentos, cartões bancários e o pouco dinheiro que me resta. Toda a minha roupa está na mala, no porão do autocarro, por isso estou decidido a entregar-lhe a minha única sweat-shirt, uma garrafa de água meio vazia, os 40 dólares que levo escondidos como back-up de emergência e o cobertor fornecido pela companhia a autocarros. Depois logo me entendo com a hospedeira!

Não tenho como abrir a janela. É apenas um vidro inteiro, sem fechos por razões de segurança. Levanto-me e peço à hospedeira para abrir a porta apenas por um instante, para conseguir atirar aquelas poucas coisa.

- Não podemos, apenas no terminal. Nós trazemos algumas coisas que reunimos em Lima entre os funcionários. Obrigado pela sua intenção. Que Deus lhe bendiga.

Volto para o meu lugar e caem-me algumas lágrimas de angústia e revolta antes de fechar definitivamente a cortina e mergulhar no meu assento.

Chegamos a Tacna com mais de quatro horas de atraso e, depois de uma discussão acesa com o motorista do autocarro que me deveria levar até ao Chile, apanho um segundo autocarro para Arica, deixando para trás um país que parece largado ao abandono muito antes do terramoto.

A vida é um ciclo vicioso de destruição dos mais fracos. Investe-se nas cidades, nas empresas e nas pessoas que dão um retorno mais rápido. Os bancos só emprestam a quem tem e, sejamos honestos, os que vivem num contexto socio-económico mais favorável têm sempre mais oportunidades. Os ricos casam com os ricos e vão viver para o centro da cidade; os pobres casam com os pobres e vão parar à periferia. E assim por diante… não saíamos daqui hoje.

Cada um de nós, no conforto do seu assento-cama com 180º graus de inclinação, pode ou não aceitar este programa e deixar-se ou não alimentar, como se fosse apenas um mero peão, um autómato sem capacidade para “mudar o mundo”. Todos sabemos qual é a opção mais fácil.


Convido-vos a ver este ou este filme no YouTube e a ajudarem da forma que puderem.

Diz que a terra tremeu...

... mas, a mim, o que me treme são as pernas no final de cada onda.

Familia, amigos, leitores e demais individualidades: Estou bem e recomendo-me. Não é um putozinho de um abanão que me deita abaixo! ;)

A minha solidariedade está com as vítimas.


Chicama, na manhã seguinte ao abanão.

Faz frio a sul

Esta história de todos os taxistas e condutores de autocarros se benzerem antes de cada viagem começa a preocupar-me. Bem sei que, por estas bandas, são todos tementes a Deus mas quer-me parecer que é mais que isso. Quer-me parecer que eles entregam totalmente o seu destino na estrada a uma força maior, como se eles próprios fossem apenas máquinas pré-programadas, incapazes de lidar com uma situação imprevista. Uma força que impeça de apanharem com um camião desgovernado em cima, de um dos pneus carecas rebentar ou de adormecerem ao volante depois das três cervejas que mamaram.

No autocarro que me trouxe desde o Equador, a tripulação era constituída por um condutor, uma hospedeira e um segurança munido de metralhadora e colete à prova de balas. Na altura, fiquei com dúvidas se aquilo era bom ou mau sinal e, mais tarde, explicaram-me também o grande benefício dos autocarros de piso duplo: os assaltantes não conseguem entrar pelas janelas!

No táxi que me levou a Chicama, viajei no banco da frente, porque os brasileiros que iam comigo tinham medo e, de vez em quando, tinha que inventar uma pergunta qualquer para fazer ao Otto, o taxista, para ter a certeza que estava acordado. Tive que o avisar duas vezes para não atropelar dois cães! À terceira, estava uma pedra mesmo no meio da estrada, à vista de qualquer um, mas não lhe disse nada. Meu dito, meu feito: pumba! Ainda vi, pelo espelho, a tampa da jante a saltar e a rebolar para o meio do deserto.

- Devias também ter posto essa mochila no porão – diz-me o ajudante do autocarro que me leva, durante a noite, do calor tropical de Mancora para o frio invernal de Pacasmayo.

- Não, esta viaja sempre comigo – cometo a ingenuidade de lhe dizer que carrega o computador e a máquina fotográfica.

- Mais uma razão. No que vai no porão só eu é que mexo. Aí em cima, podem-te roubar enquanto estás a dormir.

Ó diabo! Onde é que eu me vim meter? As melhores empresas de autocarros no Peru têm bastante qualidade e são muito cuidadosas a nível de segurança. Em algumas, por exemplo, todos os passageiros são filmados à entrada e apenas se viaja de terminal a terminal, sem paragens na estrada para recolher passageiros. Características como “directo”, “bus-cama”, “doble piso”, dão alguma garantia prévia mas este bus em que viajo é apenas “regular”, o que quer dizer que pára em todos os pueblos e não há limite de passageiros até o corredor estar cheio de gente sentada no chão.

De forma dissimulada, prendo bem a mochila a um ferro de forma a não ser fácil tirá-la da bagageira mas, ainda assim, não consigo dormir direito e, a meio da viagem, trago-a para o meu colo e prendo uma das alças à minha perna direita. Fico aliviado quando, às 5:30 da manhã, chego ao meu destino e, depois de uma surfada matinal, meto-me debaixo dos dois cobertores que tenho na cama e durmo cinco horas seguidas.

No pico do Verão em Portugal eu começo a atravessar o frio, que me vai acompanhar até meados de Setembro. Estou razoavelmente preparado. Tenho calças, sweat-shirt e sapatilhas, tudo comprado em San Jose (Costa Rica) durante os dias de espera pelo passaporte. E o fato 4/3 e as botinhas de surf foram, conforme planeado, entregues pela FedEx, no meu hotel em Guayaquil (Equador). Só me falta comprar um casaco!

Já estava tão habituado a entrar na água apenas de calções e licra que agora, de fato, quase nem consigo remar tal é o peso que suporto nos braços. Sinto-me preso, gordo, como uma salsicha enfiada em vácuo num saco de borracha… e as primeiras ondas de cada surfada são todas para o lixo, porque as botinhas fazem-me tropeçar nos próprios pés quando me levanto. Para quem não entende o que é surfar de botinhas, digamos que é como calçar meias a um cão ou, numa versão mais erótica, fazer sexo com preservativo. A verdade, é que se perde toda a sensibilidade que os pés sobre a prancha transmitem e isso atrapalha os movimentos e requer habituação. Se fosse só pelo frio até as largava mas, na verdade, também ajudam muito nas caminhadas sobre as pedras em El Faro ou Chicama. Não tenho outro remédio senão habituar-me e rir-me sozinho das minhas quedas e posturas estranhas.

No Hotel La Estacion, a senhora da recepção lembra-se de mim, de ter cá estado em Abril do ano passado. Os preços subiram e não me pode fazer um grande desconto, porque a nova gerência não deixa, mas lá me vai oferecendo algum tempo de Internet ou um chazinho quando chego do surf. Está cá hospedado um chinês que não fala uma palavra de espanhol ou inglês. Pergunto-me como é que ele terá sequer conseguido chegar até cá mas o que importa é que, ao final do dia, a diversão é reunirmo-nos todos na recepção e tentar chegar a algum diálogo. É hilariante!

As previsões de surf para os próximos dias não são muito famosas. O mar vai estar relativamente pequeno e os melhores picos da zona precisam de algum tamanho para funcionar. El Faro é, provavelmente, a opção mais certeira mas tem estado com tanta corrente que faz com que cada sessão seja uma autêntica prova de esforço. Por outro lado, acho que já estou viciado em estar sempre “on-the-road”. Tento estudar alternativas imediatas… mas para os lados de Lima, onde entra mais ondulação, o tempo ainda está mais frio e de chuva; o ano passado já visitei Cusco, Machu Picchu, Lago Tititaca e todas essas atracções turísticas; no Chile, dão temperaturas na ordem dos 6-8 graus, o que me faz perder a coragem de continuar para sul.

Acho que vou ficar por aqui uns dias, neste quarto de dez Euros com vista para umas esquerdas cheias e manhosas, a surfar o que aparecer enquanto não entra um novo swell. Vou tratar de algumas burocracias ainda relativas ao assalto (seguros, bancos, bilhetes de avião), escrever à família, cortar o cabelo, comprar o casaco, trabalhar nos guias e, porque não, ficar a ver o ER, Friends e CSI nos canais por cabo!

Afinal de contas, às vezes também sabe bem ficar “em casa”.


Com frio assim aguento eu bem! Chicama, Peru.

Vila Praia

O senhor que viaja ao meu lado quer conversa mas eu não estou muito para aí virado. Por um lado, quero aproveitar a viagem para dormir e, por outro, quero poder preocupar-me à vontade com a chegada a Mancora, no Peru. Fiz mal as contas aos horários e tempos de viagem e, em vez de chegar às 8:00 da manhã, conforme tinha estimado, vamos chegar às 2:00, o que não é uma boa hora para chegar a lado nenhum sem ter sítio para dormir.

Numa cidade grande, embora provavelmente mais perigoso, seria fácil pedir a um taxista para me levar a um hotel razoável. Mais dólar menos dólar, o assunto ficava resolvido. Mas em Mancora… nem tenho a certeza que vá sequer encontrar sítios abertos. O ponto positivo é que já conheço aquilo, de uma viagem que fiz o ano passado em férias, por isso não estou totalmente às escuras e sei, mais ou menos, a que portas ir bater.

Em todo o caso, penso nas alternativas. Às vezes nem sei porque penso tanto nas coisas porque, na hora de decidir, é raro responder com a cabeça. Acho que o meu “pensar” é apenas um meio de inserir informação no corpo para, quando chegar o momento, ele ter formas de decidir depressa, no momento, de uma forma muito mais instintiva do que racional. Os meus chefes, há excepção de um, não se fiavam muito nisso e pediam-me sempre muitas análises e apresentações.

Posso seguir viagem até Piura, o destino final do autocarro, e daí voltar para trás. É opção muito pouco eficiente mas, pelo menos, posso ir a dormir e, quando regressar a Mancora, já chego a horas decentes. Por outro lado, tenho ideia que há um posto de Polícia no pueblo. Na pior das hipóteses, enfio-me lá dentro ou à porta à espera que amanheça. Ou no Las Olas, lembro-me que tinha segurança. Se ele me deixar entrar, posso deitar-me naquelas almofadas grandes que há no chão. Bem, não há-de ser nada. Vou tentar dormir e quando chegarmos logo vejo.

Rio-me, mais uma vez, do controlo nos postos fronteiriços. Agora tenho a certeza, o ónus de mostrar o passaporte está do lado dos passageiros! Acho, no mínimo, estranho, uma vez que estamos na principal fronteira Equador-Peru, em plena estrada Panamericana. Divirto-me com os papelinhos da Emigração. No do Equador, pus “Astronauta” como profissão. No do Peru, como estava a entrar e não queria problemas, resolvi ser 100% sincero e tive que deixar alguns campos em branco, o que causou alguma estranheza ao oficial.

- Qual é a sua ocupação, senhor?
- Neste momento, não tenho.
- Quanto tempo vai ficar “en el Peru”?
- Pois, não tenho a certeza. Duas ou três semanas, mais ou menos.
- E qual a sua direcção enquanto estiver no país?
- Não sei, senhor. Vou estar a viajar para Sul e vou dormindo onde calhar.

Põe-me o carimbo e escreve “30” no espaço para os dias de autorização de permanência. Pergunto-me mais uma vez se aquela merda daqueles papéis serve para alguma coisa! Uma vez, à entrada na Austrália, vindo da Nova Zelândia, pus a cruzinha no “Sim” quando perguntavam se tinha estado perto ou em contacto com animais em zonas rurais. Entraram em pânico! É óbvio que estive, aquele país é só campo e tem vacas e ovelhas por todo o lado!

A hospedeira acorda-me a dizer que já estamos em Mancora. Desço juntamente com outro rapaz, que também viaja com pranchas, e pergunto-lhe se é da terra ou se tem sítio para dormir. Diz que não, mas que a hospedagem em frente é de um amigo dele. Pega no telemóvel e faz uma chamada “push-to-talk”.

- Tens dois “chicos” à porta de tua casa à procura de uma cama.

Afinal já são 4:00 da manhã e o meu anfitrião vem à porta receber-nos. Parece ser boa pessoa e abre-me a porta de um quarto muito modesto com três camas. Ainda pergunto o preço, como se àquela hora fosse procurar mais alguma coisa ou tivesse medo que ultrapassasse o meu orçamento. É a força do hábito.

- Diez, no mas - diz-me encolhendo os ombros.
- Dez dólares, ok obrigado.
- No, no. Diez soles (2,5 Euros).

O quarto, de repente, parece-me um luxo! Diz-me que descanse e que mais tarde fazemos contas. Além de alugar quartos e pranchas, o Walter também leva o pessoal a surfar para outros sítios perto e, no dia seguinte, combinamos ir tentar apanhar umas ondas em Lobitos.

Uma vez disseram-me que sou uma pessoa muito sensitiva ao local físico onde me encontro. Que rápida e facilmente percepciono inconscientemente se aquele lugar, aquele ambiente, aquele contexto e aquelas pessoas são para mim. E que é fundamental para o meu bem-estar seguir essa intuição.

Mancora não é mais do que 1 km estreito de estrada Panamericana junto à costa, com pequenos hotéis e restaurantes de um lado e uma boa praia no outro. O trânsito é infernal, com uma mistura de tuk-tuks locais, autocarros de passageiros e camiões de mercadoria. É um destino turístico conhecido e barato, o que pode significar (como agora) alguma lotação. À noite, a música dos bares e os berros dos bêbados ouve-se até tarde… e os camiões não deixam de passar e apitar! Dentro de água, olha-se para trás e, em vez de encontrar uma floresta densa de palmeiras outras árvores exóticas, como nos países da América Central, o cenário é desolador, de areia e deserto seco. A onda é muito inconstante porque precisa de um swell grande para quebrar e, muitas vezes, tem que se ir surfar mais para Sul, onde a água já é bem fria e o vento corta a cara. Pensando bem, isto não vale nada! ;)

Mas, como vos disse, a minha cabeça serve pouco para pensar… e há qualquer coisa neste país que me faz sentir bem. Gosto disto, caraças! E até vou beber uma Inca Kola, que sabe a chiclet do Epá!

http://www.vivamancora.com

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