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Saudade

No final da terceira onda, quando remo de volta para o pico, sinto qualquer coisa a bater-me na prancha. Num susto rápido, levanto os pés e bato com os braços na água.

Às vezes, particularmente quando estou em sítios que não conheço bem, assusto-me até com o strep que se enrola no pé ou com pequenas algas que se colam ao corpo. Outras vezes, quando vejo um set grande a entrar desde lá de fora, imagino que pode ser um tsunami. Não é uma hipótese disparatada estando aqui na Indonésia. Enfim… como não tenho mais nada com que me preocupar, arranjo estas palermices.

Já sentado na prancha, meto a cabeça dentro de água e abro os olhos para tentar ver alguma coisa. Nada, “tubarão não deve ser”.

Nessa manhã, tinha sido picado por uma alforreca. Um espanhol, que acabara de conhecer, viu-me com o pé fora de água.

- Que paso? Reef?
- Não. Acho que alguma coisa me mordeu. Sinto a picar muito.
- Medusa (ler com sotaque castelhano)! Jellyfish, you now?
- Pois, se calhar foi. E isto passa rápido?
- Si, un o dos dias. Bueno, depende da la medusa!

E continua e remar, a rir-se, em direcção ao outside.

E agora isto, seja lá o que for. Mas, volta e meia, lá sinto a bater por baixo da prancha “toc, toc”. De repente dá-me o click. Viro a prancha ao contrário e (agora parece-me óbvio) tenho uma das quilhas solta, quase a sair.

É o meu último dia em G-land. É a última surfada do dia e, quase de certeza, a última surfada na Indonésia, que será também a última antes do jejum de trinta e muitos que se aproxima, enquanto viajo pelo sudoeste asiático. Apesar do cansaço, estava com vontade de aproveitar a luz do dia até à última e, na verdade, a quilha solta não atrapalha assim tanto. O pior é mesmo perdê-la, se continuar a surfar e acabar por se soltar.

Mas depois vem-me mais uma ideia daquelas estranhas à cabeça. E se isto tudo é um sinal? No total, já levo 7 dias de G-land. Isso é qualquer coisa como 10 ou 12 surfadas. Mais ou menos 50 ou 60 ondas boas. E se “alguém” me está a querer dizer que já tenho a minha conta, que, a partir de agora, só vai piorar? Primeiro a medusa. Agora a quilha a soltar-se. Isso são avisos? O que é que se segue? Um espalho no reef?

Olho à minha volta. De um lado, vejo os brasileiros que chegaram ontem, e com quem tive a primeira discussão dentro de água em 6 meses de viagem, a disputar o pico como se fosse o último prato de comida que os seus pobres espíritos têm para se alimentar nos próximos dias. Do outro, vejo a selva cerrada, onde apenas se destaca a torre de observação.

Sim, já tive a minha conta. Despeço-me do Bob, um Havaiano que está alojado noutro surf-camp mas que surfa muitas vezes na mesma secção que eu e, por isso, acabamos por puxar sempre um pelo outro. Apanho uma última onda para sair e fico a ver os outros até o sol se pôr.

Este pode não ser o mais bem arranjado dos três campos que existem (é o mais barato), mas dizem que a comida é a melhor e, tenho a certeza, não fica atrás dos outros em termos de pessoas. Ao fim do primeiro dia, todo o staff sabe o nome dos 20-30 hóspedes, um por um, e atendem-nos com uma simpatia e um carinho que nos fazem sentir entre família.

No dia seguinte, antes de entrar para a carrinha que faz a penosa viagem de regresso a Bali, um dos empregados põe-me a mão no ombro, como quem dá um abraço de despedida, e pergunta-me com uma cara triste e num português quase perfeito.

- André… saudade?

Papel colado no bar do surf-camp.

100 metros barreiras

Durante os quase 8 anos que trabalhei no tal “melhor hospital da zona”, tinha, invariavelmente, o mesmo ponto a melhorar em todas as minhas avaliações: “Alguma dificuldade em ignorar pequenos obstáculos e continuar 100% focado no objectivo final”.

É verdade, nunca o discuti, esse é um dos meus principais pontos fracos a nível profissional. Curiosamente, nenhuma das pessoas que me identificou esse ponto foi capaz de me sugerir acções concretas válidas para o melhorar. Acho que é normal na maioria das empresas. Está toda a gente demasiado focada na gestão do negócio e acaba por se deixar o desenvolvimento diário dos próprios recursos para segundo plano. Depois manda-se a malta fazer formações pagas a peso de ouro, como que para tentar compensar. Na teoria, parece um contra-senso. Mas, na prática, acontece… e eu percebo porquê. É um equilíbrio difícil ou, como diria um guru meu amigo só para me gozar, “será mesmo um dos maiores paradigmas da gestão moderna”.

Há muito tempo que o objectivo principal desta viagem é, precisamente, chegar ao fim. Dentro do prazo e do orçamento e, se possível, sem grandes mazelas físicas ou psicológicas!

Depois de várias tentativas para tratar das coisas à distância, não me resta outra opção. Tenho que ir a território português tirar um novo passaporte.

- Bastam 15 minutos para fazer o procedimento na máquina (foto, impressão digital e assinatura) e pode voltar para Bali no mesmo dia. Em 5 dias úteis recebo o passaporte de Lisboa e dia 15 ou 16 estou a enviar-lho para a morada que me indicar – diz-me, pelo telefone, a pessoa responsável pelos serviços consulares na Embaixada de Portugal em Jakarta.

“15 ou 16?” - penso. “Mmmm… eu parto a 20. Se há algum contratempo ou atraso em Lisboa ou algum extravio no correio, está o caldo entornado outra vez”.

Mas, neste momento, é a única hipótese que tenho. Quando tomo esta decisão forçada, estou em G-land, num surf-camp no meio da selva, na mesma ilha que Jakarta mas no extremo oposto. Depois de discutir o assunto e aconselhar-me com o gerente do campo, chego à conclusão que será melhor voltar a Bali e daí apanhar um voo de ida e volta para Jakarta.

Há um detalhe importante no meio disto tudo. Estamos no mês do Ramadão, em vésperas da noite mais importante, e há muita gente a viajar para passar este período nas suas aldeias e junto dos seus familiares. Isto faz com que as tarifas dos voos estejam inflacionados, a custar três vezes mais do que o normal. Mas a viagem overland, como tinha pensado fazer inicialmente, iria, na melhor das hipóteses, demorar 24 horas, em autocarros e comboios de segunda ou terceira categoria, cheios de muçulmanos (não tenho nada contra ou a favor de qualquer religião mas, temos que admitir, os muçulmanos são um bocado barulhentos e javardolas). Isto se conseguisse, sequer, arranjar bilhetes no próprio dia.

Pelo telefone, ele consegue-me arranjar um voo one-way, ainda com uma tarifa aceitável. Quanto ao regresso, depois tinha que me safar sozinho. Pergunta-me se quero reservar.

- Em que companhia? – pergunto.

A resposta que obtenho é uma careta como quem diz: “Não faço ideia, mas isso é relevante?”. Pois… para mim é um bocadinho. Agradeço mas digo-lhe para não reservar, que quando chegar a Bali trato das coisas sozinho.

Mal chego, agarro-me aos sites das companhias aéreas e consigo arranjar um voo para o dia seguinte com a AirAsia, uma nova companhia Low Cost sedeada na Malásia. Já a tinha explorado um pouco, para ver voos no eixo Singapura-Tailândia-Cambodja-Vietnam e, ao contrário das companhias indonésias, inspira-me alguma confiança. Por incompatibilidade de horários, não dá para ir e voltar no mesmo dia mas do mal, o menos. Marco também pela net um quarto no hotel Ibis, que está com uma boa promoção de Ramadão e é bastante próximo da Embaixada. Siga!

Chego ao aeroporto de Jakarta e encontro facilmente um transporte barato para o centro. Na verdade, já tinha visto no site do aeroporto os transportes que existiam e como os apanhar. Tem-se revelado uma boa prática procurar esta informação nos sites dos aeroportos para evitar os, sempre mais caros, táxis.

No dia seguinte, conforme programado, estou tocar à campainha da Embaixada às 9:30 da manhã. Pelas minhas piores estimativas, estaria dali para fora antes das 11:00, o que ainda me daria tempo para visitar um ou outro monumento antes do voo de regresso, às 16:10.

Não podia estar mais enganado. Como já vos disse mais do que uma vez, a Lei de Murphy está sempre à espreita e, porque devo ter feito muito mal a alguém numa outra vida, apanha-me sempre.

A máquina dos novos passaportes electrónicos não está a funcionar. Desde a tarde anterior que há um problema de comunicações e não está a ser possível ligar com Portugal. Como me parece óbvio, por razões de segurança, o software não permite guardar a informação em offline para enviar mais tarde, por isso tudo tem que ser feito online. Ora, sem comunicações não há passaporte.

Ainda assim, fazemos uma tentativa quando o funcionário consegue, finalmente, fazer o login na máquina. Não resulta. As comunicações estão lentas demais e a informação não passa. Por minha insistência, fazemos uma segunda tentativa uma hora depois. Nada.

Entretanto, a responsável consular e única pessoa eventualmente capaz de resolver o assunto por outra via, está “presa” numa reunião com o Embaixador, que só termina pelas 13:30 depois de mais uma insistência minha, desta vez de “falar imediatamente com alguém que possa resolver o meu problema”.

Pensamos juntos em alternativas. Um passaporte temporário que me permita chegar a Bangkok a aí tirar um definitivo na nossa Embaixada; dois passaportes temporários com diferente datas de emissão e validade, que me permitam seguir viagem até Portugal; três, quatro? Nada disso resolve e eu não quero adiar o problema. Quero resolvê-lo já. A alternativa que tenho na manga, a única possível de imediato, não é, por assim dizer, muito legal.

- Se me passar um passaporte temporário com 8 meses de validade, em vez dos 6 que dita a lei… isso resolvia-me o problema. É um erro normal, uma pessoa enganar-se a contar os meses. Olhe, o primeiro passaporte que me enviaram da Colômbia para San Jose vinha com a data errada. E tenho a certeza que não vou ter problemas, passo com ele em qualquer fronteira.

Se estivesse a falar com um oficial Indonésio, ao mesmo tempo que dizia estas palavras estaria a dar-lhe um aperto de mão com algumas notas de agradecimento. Mas não. A minha interlocutora tem, naturalmente, a sua dignidade profissional e, por muito que me queira ajudar, não pode aceitar a minha sugestão nem fechar os olhos a um eventual erro grosseiro desses. Compreendo e sinto até um certo orgulho nacional.

São 14:20 e não tenho passaporte. Dou o voo de regresso como perdido (não há reembolso nem alterações na maioria nas Low Cost) e decidimos esperar pelo dia seguinte, para ver se a maquineta funciona ou se Lisboa dá outra solução.

- Peço-lhe imensa desculpa mas agora não consigo mesmo fazer mais nada. Só a partir das 15:00 (9:00 em Lisboa) é que se começa a conseguir falar com alguém.

- Peça-lhes a excepção para os 8 meses. Sem máquina a funcionar, tem que se arranjar outra solução. Mas pinte a coisa mais negra do que ela já é. Diga que eu tenho problemas psiquiátricos e que se não vou embora depressa “passo-me dos carretos”!

Vendo bem as coisas, não seria uma mentira assim tão grande.

Volto para o hotel a pensar no pior cenário. Costumo fazer isso em situações de “crise”. Dizem-me que é por ser muito pessimista mas eu prefiro ver os extremos e perceber se consigo viver como isso e, a partir daí, construir cada passo da estratégia de resolução do problema. O pior cenário é ter que ficar em Jakarta até as comunicações funcionarem ou até Lisboa dar outra solução. Um sexto sentido disse-me para vir preparado para o pior e trouxe comigo “a” mochila, isto é, tudo o que é indispensável e não abandonável. Em caso de emergência, posso ser deportado para Portugal sem perder coisas de muito valor além das pranchas de surf que, obviamente, deixei em Bali. Decido que só saio de Jakarta com um passaporte na mão ou num Hércules C-130 com ordem de prisão em Portugal! “Mas hoje é dia 9… até dia 20 fica resolvido de certeza”. E a partir deste pensamento começo a magicar os próximos passos.

Às 16:30 recebo uma mensagem no telemóvel. “Pode vir agora à Embaixada?”. “Estou aí em 15 minutos”, respondo.

Aparentemente, o Gabinete do Ministério deu autorização para o passaporte temporário de 8 meses e, passados 20 minutos, saio com um documento que me vai permitir, se não houver mais contratempos (o que eu duvido), seguir viagem pela Ásia e regressar a Portugal alguns dias antes do Natal.

Agarro-me outra vez aos sites das companhias aéreas mas está tudo esgotadíssimo nos próximos três dias. O único voo de regresso que arranjo, pela mesma tarifa que paguei pela ida e volta na AirAsia, é da local Mandala Airlines, a companhia de se despenhou em 2005, duas semanas antes da minha vinda para Bali. Qual a probabilidade da mesma companhia se despenhar duas vezes no espaço de dois anos? Provavelmente menor do que outra companhia qualquer se despenhar, não? Mas o medo não quer saber de lógicas e não liga a probabilidades… e até ao último minuto, dentro do autocarro que passa pelo escritório da Mandala (onde tinha que ir pagar o bilhete pré-reservado por telefone) e termina na estação de comboios, hesito em apanhar esse voo ou tentar uma viagem de regresso por terra.

O que interessa é que já estou em Bali novamente e já tenho o bendito passaporte. É uma obra-prima muito parecida com a anterior, mas o importante é que serve o propósito e, já agora, também fica para a colecção!

Os próximos dias serão passados a planear e a organizar o circuito pelo resto da Ásia e, quem sabe, com uma nova ida a G-land, uma vez que Bali está quase sem ondas.

Com tanta burocracia, papelada, documentos, mapas, calendários, bilhetes, vistos, sites de companhias aéreas, de emigração e turismo, marca, desmarca, envia, não envia, liga, não liga, etc.… até já estou com os olhos em bico! ;)

Mas acho que os meus chefes iam ficar orgulhosos.


Nota: Para que não haja mal entendidos, gostava que ficasse claro que, quando falo em chefes e empresas, não estou a ironizar nem a "acusar" alguém ou alguma organização em especial. Estou apenas a usar pequenos detalhes da minha experiência para tentar ilustar um ponto de vista. Tive a sorte de trabalhar num negócio e numa empresa de topo e de ter várias chefias de qualidade, pessoas com as quais continuo a manter saudáveis relações. Com algumas, mesmo de grande amizade. Aliás, ainda lhes hei-de bater à porta em Janeiro, quando regressar a Portugal e precisar de trabalhar mais alguns anos para ganhar dinheiro para uma nova expedição! :)

Gone surfing

Be back soon...


G-land, East Java

http://g-landsurfcamp.com/

Ilha dos Deuses

Enquanto dormito sobre a esteira de palha estendida na cama de bambu, sinto as meigas mãos da Cynthia a tocarem-me nas costas. Primeiro, num movimento circular delicado, como se espalhasse algum creme ou óleo; depois, com as pontas dos dedos e mais alguma firmeza. Finalmente, senta-se nas minhas costas e massaja-me os ombros e o pescoço.

Viro a cabeça e sorrio. Ela cola a sua testa à minha e ri-se. Eu não aprendi quase nada de Bahasa e ela ainda não fala inglês, por isso a nossa comunicação baseia-se apenas em gestos e caretas. Com o pau do gelado que acabou de comer, penteia-me e faz-me alguma coisa nos braços, que eu imagino ser um tratamento de beleza. Agradeço e continuo a sorrir.

A Cynthia tem exactamente a idade do meu sobrinho. Nasceram no mesmo mês e em dias muito próximos.

- Daqui a dois anos vou trazê-lo cá para se conhecerem. Aposto que vai ser amor à primeira vista!

- Andrééé, nooo! No boyfriend yet!

A Suzy, mãe da Cynthia, é dona do warung onde fico sempre na praia de Balangan. É fantástica esta experiência dos warungs. A familiaridade e confiança que se cria com estas pessoas que, dia após dia, nos abrem as “portas” da sua cabana de praia, nos guardam as coisas enquanto vamos para a água, nos preparam um prato de comida, nos fazem uma massagem, nos deixam descansar ou dormir a sesta… toda esta vivência é uma experiência única que eu nunca vou conseguir exprimir por palavras.

No primeiro dia que cheguei a Balangan e ao warung da Susy, tinha acabado de “oferecer” 70.000 ruphias (5,5 Euros) a um polícia, por andar a guiar a mota sem licença de condução internacional, e sobrou-me apenas o suficiente para uma boa pratada de noodles (1,6 Euros).

- Posso beber uma Sprite e pagar amanhã?
- Yeees, no probléme.

Nos dois dias seguintes, o mar esteve mais pequeno e eu fui surfar para Uluwatu, uma outra praia um bocado mais para sul. No quarto dia, voltei a Balangan e a primeira coisa que disse à Suzy foi que não me tinha esquecido do que estava a dever.

- Don’t worry. Há quem ande com uma semana de crédito.
- A sério? E nunca se esquecem de pagar?
- Se alguém se esquecer, eu também me esqueço. Ou se tem karma ou não, eu não me quero zangar por causa disso.

Diz-se, no meio do surf, que todo o surfista tem que ir pelo menos um vez ao Havai. Eu nunca fui ao Havai, nem tenho ainda as ilhas na minha shortlist… mas digo, sem hesitar, que todo o surfista (de prática ou de alma) tem que vir, pelo menos uma vez, a Bali. Este é, sem sombra de dúvidas, “O” destino. Não conheço ainda lugar no mundo que reúna tanta coisa boa ao mesmo tempo: praias, ondas, clima, paisagens, cores, cheiros, preços, cultura, espiritualismo… e, não vou dizer isto da boca para fora, pessoas. Gente real, verdadeira, desprendida e simples de sentimentos.

Lembremo-nos que este povo tem sido fustigado nos últimos anos por tudo o que é desgraças naturais e humanas (terramotos, tsunamis, atentados bombistas, desastres de avião, décadas de governação opressiva e desonesta). E, ainda assim, nunca falta um sorriso sincero, um jeito especial no trato, uma preocupação autêntica, um interesse genuíno. Há uma aura especial em Bali e nas suas gentes. E isso sente-se e é contagiante até para o mais bruto e indiferente dos seres humanos.

Como disse o Pedro Adão e Silva, é “um pedaço de terra assustadoramente próximo de um mundo perfeito”.

O poder dos sonhos

Há um sonho que tenho tido com alguma frequência desde o assalto na Costa Rica. Sempre o mesmo, com exactamente os mesmos detalhes.

Nesse sonho, sou obrigado a regressar a Portugal para tratar das burocracias que me permitam continuar a viagem. O plano é deixar de lado a América do Sul e apanhar novamente o trilho na Indonésia. Mas, quando chego a Portugal, e por uma razão inexplicável muito estranha (os sonhos são assim), volto a trabalhar alguns dias no meu antigo emprego e embrulho-me tanto com projecto qualquer que me esqueço de comprar os bilhetes de avião para e acabo por já não conseguir ir para Bali. Acordo sempre nessa altura meio assustado e demoro alguns segundos a perceber onde estou e que tudo não passa de um sonho.

Como já perceberam, já estou na Indonésia. Mas o sonho pode ter estado muito perto de, numa versão ligeiramente diferente, se tornar realidade. Não vos quero maçar com mais histórias recambulescas de passagens de fronteiras e entradas em países mas esta foi, sem dúvida, a mais complicada. O meu passaporte temporário é válido até Janeiro 2008 mas alguns países exigem passaportes com, pelo menos, mais de 6 meses de validade. É óbvio que eu sabia disto à partida mas foi um detalhe de que não me lembrei com o novo documento.

Para resumir, o episódio começou com o guarda de emigração a dizer “Temos um problema, não podemos dar-lhe visto e vai ter que regressar a Darwin” e acabou com um suborno de 100 dólares americanos ao responsável de serviço, sugerido pelo próprio. Os “entretantos”, foram um processo de negociação muito complicado, muitos nervos e uma ida escoltada à caixa ATM para levantar dinheiro.

O raio do assalto, que já lá vai há muito, deixou tentáculos por todo o lado e, todos os dias, descubro mais uma coisinha, mais um pormenor, mais uma rasteira. Hoje tive que pagar mais 7 dólares a um polícia de trânsito porque a minha licença de condução internacional (o documento mais estúpido que conheço) também ficou algures na Costa Rica.

O problema da Indonésia está resolvido mas, agora, estou outra vez na corda bamba em relação aos próximos destinos e é bem provável que tenha que alterar radicalmente a rota programada. Ou isso, ou passo a viajar com uma mala cheia de notas!

Padang-Padang... 25 dólares.

Impossibles... 25 dólares.

Balangan... 25 dólares. E já vão 75.


Uluwatu... 25 dólares. E faz 100! Está pago, não está?

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