O livrinho mágico dos Doutores de viagens

As Consultas do Viajante estão a ser marcadas com, pelo menos, 1 mês de antecedência. Menos do que isso não é possível, estão totalmente cheios. Ou é da crise ou é por causa dos contentores cheios de trabalhadores que andam a mandar para Angola.

Eu até sei o que preciso (e o que não quero) mas lá precisava de ir buscar a receita. Sim, porque ler o livrinho também eu sei.

A verdade é que não pude ir à consulta, por isso toca de arranjar a Doxiciclina de outra forma. Doxiciclina!? Como profilaxia da malária!? Oooohhhh… ninguém neste país sabe disso, só mesmo os Srs Drs Médicos da Consulta do Viajante, porque têm o livrinho mágico!

Santa Paciência… já sei que as farmácias não podem vender medicamentos sem receita média (não podem pois, não?) mas, pelo menos, podiam tentar ajudar um utente e podiam mostrar algum interesse em investigar coisas que não sabem.

Não importa o que diz o documento técnico no site do Infarmed porque naquele livrinho não diz nada sobre a malária (não é o livro mágico dos médicos das viagens).

- “E na internet há muitas asneiras” - como se eu não soubesse senhora farmacêutica. E, agora, até dizem que também se viola crianças!

- “Eu já nem vou insistir que me venda isso (depois vou comprar a outra farmácia qualquer) mas pelo menos, não se quer informar? Não quer ligar para o Infarmed ou para o laboratório que produz isso? É que nunca é mau aprender e sempre ficamos mais capazes para atender um próximo utente/cliente. Não? Olhe, muito bom dia!”

Na linha de apoio do Infarmed (que, estranhamente, não aparece a letras garrafais na sua homepage) a farmacêutica de serviço também não parece saber muito bem.

- “Mas olhe, se vir o documento técnico no vosso próprio site, diz lá Tratamento profiláctico do paludismo. Está a ver? Na segunda página, logo a seguir à Sífilis”.

- “Ahhh... que estranho. Mas se diz é porque foi aprovado.”

- “Olhe, muito obrigado, ler também eu sei. Já estou farto de repetir isso.”

O próximo passo foi contactar o laboratório que produz um dos medicamentos com o princípio activo Doxiciclina vendidos em Portugal. A farmacêutica não estava, diz que me liga amanhã. Mas eu já só quero que eles metam a informação na bula no medicamento e que instruam a sua rede de distribuição (ou seja lá quem for que faz isso) sobre o tema. Porque o medicamento, em si, ainda nem sei se o vou tomar mas, já agora, até quero ver se o consigo comprar sem receita ou não!

Quando fiz a viagem de volta ao mundo, levei desde Portugal todos os medicamentos da profilaxia da malária necessários. Cloroquina para a América Central e Maralone (40 Euros a caixa porque foi o que o Sr Dr das Viagens me receitou) para a Ásia. Uma quantidade brutal de caixas… para ser tudo roubado na Costa Rica!

Quando cheguei a Bali, um mês antes de ir para o meio da selva javanesa e, mais tarde, para o Vietnam e Cambodja, dirigi-me à primeira farmácia que encontrei. Recomendaram-me os comprimidos de Doxiciclina, que se vendiam à unidade em tiras de 10, tipo aqueles rebuçados de vários sabores que dantes se ia comprar ao Corte Inlgles de Vigo (sempre adorei os de sabor a Cola). Sem receita, baratos e ainda tive direito a muitos sorrisos das simpáticas farmacêuticas Balinesas.

Pertenço a este mundo civilizado cheio de regras, instituições e burocracias… cheio de gente e ideias pré-formatada. Mas, sou de extremos, e, às vezes, quem me dera viver no caos organizado. Venha o diabo e escolha.


Allez! E o resto é tanga.