Poupar para viajar... ou viajar para poupar?

Aos 15 anos comprei uma Vespa com o dinheiro que tinha poupado de todos os aniversários e Natais até então. Ainda nem idade tinha para ter a licença de condução (que, verdade seja dita, é apenas uma piada burocrática) e, ainda hoje, não sei como consegui dar a volta à minha mãe com histórias rocambolescas dos motoristas e “picas” que maltratavam os miúdos que entravam com pranchas de surf nos autocarros (não é que não houvesse um fundo de verdade nas minhas histórias; isso há sempre).

A verdade é que sempre fui muito poupadinho. A minha mãe costumava dizer “somítico”… mas o que é que as mães percebem disso? :)

Em viagem sou, de facto, somítico. Quero sempre arranjar a melhor tarifa de avião, mesmo que isso me obrigue a voar desde Bangkok para Joanesburgo via Londres! Gosto de “baixar o nível” até ao aceitável e procurar hotéis baratos e escondidos, que não vêm nos guias e nas revistas. Levo a garrafa de água gratuita do quarto para a mesa do resort nas Maldivas. Ando com a mesma t-shirt até ser humanamente suportável, para não gastar dinheiro desnecessário com contas de lavandaria. É raro comprar alguma coisa que não seja uma pequena lembrança útil para a casa, como um tapete ou uma fronha de almofada. Faço contas às refeições e tendencialmente, olho sempre primeiro para os pratos mais baratos da lista. Sou mau para os condutores de tuk-tuks, porque espremo-os até ao tutano e não deixo gorjeta no fim. E, se me vierem com a história do “ai não tenho troco e não sei quê”, vou tentar trocar dinheiro ao boteco mais próximo.

Às vezes dou por mim a discutir 10 cêntimos… mas eu não vejo dinheiro quando estou em viagem. Os 2 Euros que eu poupar hoje vão pagar o almoço de amanhã. Nas notas eu vejo almoços. E noites de hotel. E viagens de autocarro e dias extra num destino. Vejo o próximo trajecto, a próxima viagem. No fundo, vejo tempo. E eu preciso poupar para poder comprar tempo!

Uma coisa (um bem ou um serviço) não custa apenas o dinheiro que pagamos por ela. Custa esse valor + o que vamos ter que deixar comprar/fazer por termos gasto o dinheiro agora em vez de o poupar. O “custo de oportunidade” é dos conceitos mais importantes de perceber para saber gerir orçamentos familiares, coisa que, regra geral, os portugueses não fazem muito bem.

Tão ou mais importante do que nacionalizar bancos em dificuldades, acho que o governo devia criar um subsidio destinado a pessoas que queiram investir na sua formação económica, nomeadamente através da realização de viagens independentes tipo low cost. Ou, no mínimo, deixar meter isso no IRS! ;)

PS - Não é que valha de muito mas, já agora: o Tempo de Viajar apoia o Barack Obama.